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Mães à distância, ou como algumas coisas são sempre difíceis

Algum dia li que educar um filho é como uma longa separação que dura vinte anos.

O público tem um longo artigo sobre as mães à distância, que viram os filhos partir para outros países.  Não é uma crítica ou uma reflexão – apenas descreve os sentimentos e as razões de cada separação.

Pequena reflexão: se os filhos sempre partem, o que há de novo aqui? Talvez em Portugal a separação entre pais e filhos seja muito mais tardia do que noutros países? Talvez a emigração, que antes era uma escolha de sobrevivência, hoje seja uma busca do sonho, pelo que quem parte o faz para alcançar algo que não é tão fácil em Portugal?

É um dos lados deste mundo global. E o artigo revela e bem que hoje, com o skype, o email, é muito mais fácil manter a ligação. Há quarenta anos, chegava uma carta, uma distante chamada telefónica, e era tudo. Hoje, é muito mais fácil.

A reflexão é sobre o onde pertencemos. Se o nosso mundo é a nossa família, onde estivermos, qual a lógica de comunidade, de país, de pátria ou de nacionalidade? Quem fala de patriotas, hoje em dia, sabe do que fala?

A emigração em 2012 – e como está a tramar a economia do país para as próximas décadas.

Era a guerra em África, a pobreza do país e a falta de esperança que levavam à emigração nos anos sessenta. O destino era sobretudo a França, pelo menos para os do Continente. Uma geração que saía. Perdia o país a sua juventude, sobretudo nas zonas rurais.

Depois foram os anos europeus. A ideia do progresso. A modernização, o desenvolvimento económico. O país enriquecia aos poucos, e os emigrantes passaram de parentes ricos na França a parentes parolos na aldeia. A nova classe média da cidade, com apartamentos novos, passeando na expo, com carro novo e férias no Algarve, e nalguns casos até na República Dominicana e no Brasil, olhava para essas casas vazias espalhadas pelos montes, e desdenhava. As coisas corriam bem.

E agora há a crise. Os jovens estudam mas não têm emprego. As universidades, cuja oferta explodiu com a curva populacional dos pós-25 de abril, passaram a ter menos procura, pelo que o acesso ao ensino superior, previamente racionado pela limitada oferta, passou a ser quase universal. Mas sem emprego, o que fazem agora? Emigram. Há provavelmente dois anos que o fenómeno aumentou, e o INE continua a não apresentar dados relevantes sobre o tema. Não há, de resto, uma forma correcta de medir as saídas, pois quem sai não notifica. E tal como com os cadernos eleitorais, as autoridades não têm qualquer incentivo a procurar a verdade, pois a verdade é desagradável. E como o país não mantém um registo de residentes rigoroso, não se sabe. As consequências? Entre outras, está que a receita fiscal encolhe, a procura para as empresas encolhe, tudo encolhe.

E que números há? Recentemente a OCDE publicou um relatório que informava que saem a cada ano 70 mil portugueses. No entanto se espreitarmos apenas a Suiça, vemos que só naquele país o número de portugueses aumentou de 206 mil em 2009 para 223 mil em 2011. Não há ainda dados para 2012. Também a Alemanha registou um aumento dos emigrantes. De acordo com outra fonte, o número será de cerca de 100 mil saídas por ano, sendo que 65 mil são jovens entre os 25 e os 34 anos.

Para termos uma ideia do impacto desta saída, consideremos que há de acordo com o INE (censos 2001) cerca de 1 milhão e seiscentos mil residentes entre os 24 e os 35 anos (link aqui). O que significa que o país está a perder por ano cerca de 4% da sua população activa jovem e mais produtiva. Se considerarmos que isto está a acontecer desde 2010, temos que provavelmente durante estes 3-4 anos de recessão o país perderá cerca de 15% da sua população nesta faixa etária.
O impacto é significativo, pois dentro de dez anos esta população, que estará no estrangeiro, entrará no período de maior consumo durante a vida, quando constituem famílias, compram casa, etc. E não estarão em Portugal. A perda de riqueza é desproporcional, e atingirá assim o PIB português durante muitos anos. Finalmente, o efeito é também desproporcional se for verdade que os que estão a emigrar têm melhores qualificações do que os que ficam.

É portanto um desastre.

E se a taxa de natalidade do país era já uma das mais baixas, com a saída dos jovens em idade reprodutiva, tudo piora ainda mais. E isto agrava a sustentabilidade da Segurança social, pois está-se a perder uma geração contributiva mas não uma geração de beneficiários.

Finalmente, uma reflexão: é Portugal um país sobre-povoado? O país tem 113 habitantes por Km2. Isto é menos de 1/3 da Inglaterra (383 hab/km2, não confundindo com o Reino unido que tem 256, mas vastas extensões despovoadas no norte na Escócia). Para quem viveu na Inglaterra, garanto-vos que não é um país sobrepovoado. A Alemanha, com 229 hab/km2, também está muito acima de Portugal. Outros países europeus como a Itália (197), Holanda (496) ou Suiça (193) mostram a realidade: somos um país relativamente despovoado. O problema, claro, já vem dos tempos do D. Dinis, mas com a emigração as coisas não melhoram. Se tivéssemos a intensidade populacional da Inglaterra teríamos cerca de 33 milhões de habitantes. Se emulássemos o Japão, cerca de 30 milhões, e usando os números da Coreia do Sul, teríamos 44 milhões de habitantes. São projeções gigantescas, mas úteis para pensar no potencial do país e compreender que o problema não é a falta de espaço, mas sim o não ter uma sociedade que cria condições para a propsperidade, e observa com tristeza a fuga dos seus mais jovens. Pensemos que a população de um país duplica em 70 anos se o seu crescimento demográfico for 1%. O crescimento demográfico em portugal é de… 0% (a França tem actualmente 0.6% e a Suiça tem 1%).

E isto escreve quem, há já mais de oitos anos, emigrou. Quando era jovem.